São pelo menos 5 bons motivos para incluir Leipzig em um roteiro de viagem para a Alemanha. A cidade conseguiu manter a tradição arquitetônica antiga e obras modernistas em harmonia, respira história e cultura, além de possuir uma localização estratégica para turistas que gostariam de fazer a trinca Alemanha – República Tcheca e Áustria.
Chegamos em Leipzig com a expectativa de encontrar um lugar nota 7 e acabamos nos surpreendendo com a quantidade de atrativos que a cidade possui. No final das contas, saímos com a sensação de que ainda tem muito mais a ser explorado. Também pudera, na casa em que nos hospedamos havia um livro com o seguinte título: 111 lugares em Leipzig que é preciso conhecer. Aí ficou difícil cumprir a missão. Algumas sugestões do autor meio que forçam a barra, mas mesmo assim ficamos devendo uma visita a alguns lugares.
Como já era outono, alguns dias foram frios que só! Como o vento que venta por lá é mais frio do que o que venta em Dusseldorf – sem brincadeira, naqueles lados da Alemanha a alma congela quando faz frio – já me imaginei escrevendo o seguinte parágrafo para o Viagem 0800:
“A cidade é tão legal e divertida que a gente preferiu ficar em casa assistindo seriado. Quando a consciência pesou, demos uma caminhada de uns 40 minutos e conseguimos apenas conteúdo suficiente para encher linguiça nesses X tópicos…” :p
Mas como desgraça pouca é bobagem, aproveitamos o nosso único dia livre para passear e fomos para a rua debaixo do que apelidamos de “chuneve” – neve tão fininha que acaba molhando como chuva.
Personalidades ilustres como Bach, Goethe e Wagner cravaram seu nome na história da cidade, mas mesmo assim, não deixe que Leipzig te confunda. A cidade é – com todo o respeito – muito mais do que um retrato antigo de uma Alemanha de reis, literatura e compositores.
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Motivos para conhecer e o que ver em Leipzig
Dos cinco motivos listados para visitar a cidade, quatro deles já incluem algumas dicas do essencial para se ver por lá. Sem mais delongas, aqui estão:
1. Antiga e Moderna
Leipzig tem a capacidade de misturar o velho e o novo no mesmo lugar. O primeiro exemplo disso é a estação central de trens da cidade, que fica em um prédio antigo – daqueles que você bate o olho e sabe que está lá desde o início dos tempos – mas abriga um centro comercial novíssimo em folha no seu interior.
Ao desembarcar dos trens e ultrapassar a área em que as plataformas estão, a impressão que dá é que entramos em um shopping center de luxo. Escadas rolantes conectam dois andares com lojas e lanchonetes. Até o balcão de informações da empresa de trens é mais chique por lá. Caminhando um pouco mais em direção à saída, onde há um enorme relógio de parede, parece que entramos em um museu ou no interior de uma igreja, devido à quantidade de detalhes no acabamento do teto da estação.
Na Augustusplatz, essa mistura entre o velho e o novo fica ainda mais evidente. De um lado, a praça abriga os modernos edifícios da universidade e da City-Hochhaus, o prédio mais alto de lá. Do outro, a ópera e o prédio do museu egípcio fazem questão de reafirmar que a tradição nunca foi esquecida.
2. O centro histórico (Altstadt)
Muitos pontos turísticos importantes de Leipzig ficam no centro da cidade, que fica próximo da estação central (Hbf). O melhor jeito de conhecer a maior parte da cidade é a pé mesmo, porque a cada quarteirão há um pedaço de história para ser contada.
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Leipzig foi fundada no século XII e se tornou um importante centro comercial na região. Sua localização era estratégica para mercantes do norte da Itália e também de áreas próximas (hoje Alemanha e República Tcheca).
Em uma praça enorme em frente à antiga prefeitura era que aconteciam as transações comerciais. O lugar lembra a praça central de Cracóvia, devido ao seu tamanho e formato quadrático.
3. Próxima de Berlim, Dresden e até Praga
Leipzig está localizada no leste da Alemanha, próxima de Dresden, da República Tcheca (que tal aproveitar e dar um pulinho em Praga?) e não tão distante de Berlim. Por estar daquele lado do país, fez parte da RDA (República Democrática da Alemanha) entre os anos seguintes à segunda guerra mundial até a reunificação alemã.
Há uma grande rivalidade com Dresden, mais por conta de suas similaridades do que pelas diferenças – embora cada lado tente ressaltar o que tem de melhor que o outro. Dresden foi escolhida como capital da Alemanha oriental, Leipzig foi um palco importante para manifestações pró reunificação. Daí já dá pra entender um pouco dessa rivalidade.
O fato é que os trens que pendulam entre os dois destinos mais importantes da Saxônia vivem cheios, muitas pessoas moram em uma das cidades e trabalham na outra. Um trem regional entre as duas cidades leva um pouco mais de uma hora. Um ônibus de Leipzig a Praga leva só 3 horas.
Toda a área é muito bem conectada. É possível ir para Leipzig com trens de alta velocidade e até avião. A Germanwings, inclusive, faz voos por 33€ (cada trecho) de Colônia para lá, por exemplo. A cidade também faz parte dos destinos de Blind Booking oferecidos pela empresa.
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4. Igrejas históricas
Leipzig possui várias igrejas, mas duas delas são extremamente importantes em termos históricos. O compositor Johann Sebastian Bach foi o cantor da igreja de St. Thomas até falecer. A igreja sempre foi tida como a mais importante do lugar, até que em 1989, a St. Nikolaikirche (Igreja de São Nicolau) se tornou o principal palco das Manifestações de Segunda-feira, que pediam a reunificação do país.
Na praça ao lado, há uma coluna idêntica às colunas de sustentação que existem dentro. A obra foi colocada ali para simbolizar que ideias podem ser levadas de dentro das igrejas para as ruas. Outro ponto curioso é que ambos católicos e protestantes fazem uso da igreja.
Inicialmente, a St. Nikolaikirche foi concebida em estilo romanesco, mas acabou recebendo toques góticos com sua expansão. Por dentro, seus adornos e pinturas são em estilo neoclássico. Essa mistura, mesmo que não pareça, deu certo.
5. Caráter revolucionário
Como já falei um pouco no texto, Leipzig foi palco de várias manifestações pela reunificação do país. Eu até arrisco dizer que a cidade foi o ponto de ebulição da Alemanha Oriental.
Desde 1982, a Nikolaikirche fazia uma oração pela paz às segundas-feiras. O evento acabou se tornando um ponto de encontro entre muitas pessoas que não estavam de acordo com o sistema político atual.
Em uma segunda-feira de setembro, diversos estudantes se reuniram para participar de uma feira que contava com a participação de algumas empresas ocidentais e começaram a reivindicar coisas simples, mas então impraticáveis na época, como conseguir autorização para viajar para o lado ocidental.
A polícia fez um serviço de repressão tão “bom” que, na semana seguinte, também na segunda-feira, lá estavam os estudantes novamente a pedido de um pastor luterano que havia proposto mais uma oração pela paz na igreja.
A partir daquilo, criou-se uma bola de neve e toda segunda-feira era dia de manifestação na frente da igreja. Milhares se reuniam e gritavam “Wir sind das Volk” (Nós somos o povo). O protesto ficou tão popular que foi aderido em outras cidades. Em Leipzig, reuniu 70 mil pessoas no dia 9 de outubro, saltou pra 120 mil na semana seguinte e para 200 mil pessoas na outra semana.
O ex-pastor da igreja de St. Nikolau, Christian Führer, diz que sem as manifestações de Leipzig não seria possível imaginar que a queda do muro de Berlim fosse algo realmente viável.
E aí, você já esteve em Leipzig antes? O que achou da cidade?
Ótimo texto. Obrigado pelas dicas.
Só um detalhe: Bach não foi o cantor da igreja, mas um Kantor. Significa que era compositor e regente do coro e da orquestra da igreja.
Obrigado pela correção, Henrique! E que bom que o texto ajudou!
Muito bom o post, conta realmente com todos os pontos turísticos principais da cidade. Para quem tem mais um tempinho pra aproveitar, sugiro visitarem também outros lugares por lá que valem a pena:
– A nova prefeitura da cidade: É um prédio gigantesco que mais parece um castelo, perto do centro antigo da cidade, eu demorei muito tempo pra descobrir que aquilo era mesmo só a prefeitura. É digno de umas boas fotos.
– A nova Igreja da Comunidade Católica de Leipzig (o q eu chamaria de catedral): A antiga foi destruída na segunda guerra e, durante a guerra fria, não foi reconstruída nos moldes padrões por motivos financeiros e políticos. Depois da reunificação, a comunidade católica se reunia nas igrejas menores nos bairros, mas no centro, funcionava num prédio projetado pelos arquitetos da DDR perto do zoológico (que mais parecia um auditório e que foi profanado, ou seja, atualmente não é mais uma Igreja). Nos anos 2000 começaram os trabalhos de projeto, arrecadação de fundos e etc e na páscoa de 2015 ela foi inaugurada. É bastante moderna e tem uma simbologia muito interessante. É bem diferente do que se espera de uma Igreja e mesmo assim tem uma atmosfera introspectiva.
(Nessa foto da pra ver ela na frente e a prefeitura atrás https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a6/Neue_Propsteikirche_St._Trinitatis_Leipzig.jpg/1200px-Neue_Propsteikirche_St._Trinitatis_Leipzig.jpg )
– Dar uma passadinha pelo supremo tribunal administrativo: É um prédio muito enorme e suntuoso, fica bem perto da prefeitura e da Igreja e vale umas fotinhos.
– Passear pelo Clara Zetzin Park: Avançando no sentido do tribunal tem um parque enorme e lindo, com varias opções de lazer, desde recreações, passeios, gramados com sombras de arvores grandonas, barraquinhas de bratwurst e por ai vai. É um ótimo lugar pra dar uma relaxadinha.
– Curtir a Karli: Recuando no sentido do tribunal tem uma rua que é atualmente o recando dos hipsters da Alemanha, chama Karl-Liebknecht Straße, ou Karli para os íntimos. Durante o dia tem umas lojinhas com artesanatos legais, cinemas alternativos, mercadinhos e por ai vai. A noite tem uma opção considerável desde restaurantes italianos, mexicanos, bares de jazz, bares de pop e até uma balada q funciona numa antiga fábrica chamada Werk 2 (curiosidade: durante o natal funciona um mercadinho de natal la dentro com coisas diferentonas natalinas, muito muito legal).
– Ir pra balada na antiga muralha da cidade: Perto da Augustusplatz funciona a Moritzbastei, um centro cultural que funciona nas ruínas do que um dia foi a muralha da cidade. É muito interessante a divisão dos ambientes porque é basicamente um corredor que as vezes fica mais largo e forma uma salinha que tem um tipo de música, outro é um bar, mais pra frente tem outro tipo de musica e assim ela vai se configurando.
– O ZOOLÓGICO: É um passeio de um dia inteiro, mas foi o maior e mais completo zoológico que eu fui na vida. Ele tem muitas espécies diferentes e a forma com que os animais são acomodados lembra o habitat natural deles então é bem diferente de passar pelas jaulinhas. Tem recuos que se entra e é forrado de vidro, como se a gente tivesse la no meio do lugarzinho deles. No caminho tem várias carrocinhas de comida, sorvete, mantimentos e tem um restaurante também. Mas o mais incrível é que eles fizeram um domo gigante que é literalmente uma estufa e reproduziram a mata tropical lá dentro. Tem vários animais e plantas exóticos, além de pontes de corda que passam por cima da mata e também um passeio de barco num riozinho. Me senti a verdadeira Dora a aventureira, e eu realmente não esperava que pudesse me conectar a natureza dessa maneira num ambiente artificial.
Enfim, acho que me empolguei nas dicas, mas todas elas são bem válidas <3
Camila, dicas sensacionais! Muito obrigado! Estamos planejando uma volta em 2017 e, com certeza, vamos fazer os passeios que você sugeriu!
E um motivo para não visitar: atualmente há uma considerável presença de grupos neonazistas pela cidade, conforme constatei em minha visita em março de 2016. Logo, muito cuidado ao visitar Leipzig, embora devo ressaltar que trata-se de uma cidade muito bonita. Cheguei a ser abordado/agredido verbalmente por um grupo na estação ferroviária de Leipzig. Há considerável policiamento, mas Infelizmente os policiais me pareceram bastante passivos e permissivos, já que os elementos em questão chegaram inclusive a circular livremente com uma bandeira neo-nazi pela estação? Portanto, aos viajantes, uma dica: olho vivo em Leipzig ( e o mesmo vale para quem for a Dresden também).
Infelizmente a região conta, sim, com grupos neo-nazi, James. Mas, mesmo com esses grupos, eu não diria pra ninguém deixar de visitar a cidade, porque essas situações são bem cuidadas por parte da polícia. O que pudemos constatar é que as duas cidades (Leipzig e Dresden) contam com um policiamento até maior que na maioria das cidades grandes nos lugares mais centrais (como em importantes estações de trem e pontos turísticos) e que a população local é muito simpática e faz questão de receber bem o turista que está disposto a conhecer um lugar novo. =)
Obrigado pelo comentário e por levantar esse tópico!