O estereótipo do Marrocos é mais ou menos aquele representado na novela O Clone, com as dunas do Saara, os becos e ruelas das medinas e um calor danado em todo lugar. Não dá pra dizer que essa imagem não seja verdadeira, mas o país é, na verdade, um lugar cheio de contrastes. O que vimos por lá surpreendeu, encantou e vai ficar em nossas memórias pra sempre.
Nunca passou pela nossa cabeça que poderíamos encontrar neve por lá, muito menos que haveria uma cidade bem branquinha de gelo ou que seria até possível esquiar em algumas montanhas, por exemplo. Essas e outras descobertas a gente fez na nossa road trip de 5 dias junto de uma galera sensacional e ficou marcada por essa trilha sonora aí:
Roteiro completo pelo Marrocos
Fez
A gente desembarcou na África em Fez, mais por uma questão de orçamento do que por escolha mesmo. A Ryanair tem ótimos preços saindo da Europa pra lá e foi isso que levamos em consideração pra “escolher” o nosso destino inicial no país. Pagamos 110 Euros saindo de Colônia, na Alemanha.
Como chegamos antes do meio dia, sabíamos que não daria pra entrar no quarto do hostel direto, mas mesmo assim optamos em ir pra lá pra ver se pelo menos dava pra deixar as malas. Foi a melhor decisão, pois justamente quando chegamos, havia um guia local oferecendo um tour pela medina de Fez a um grupo de turistas e aproveitamos pra embarcar no passeio. Não antes de nossa primeira lição cultural, no entanto.
Ao ser recebido em um hotel, hostel ou até mesmo em lojinhas no meio da medina, é tradição marroquina oferecer um chá de hortelã aos recém-chegados. Existe todo um ritual envolvendo o chá. A bebida é usada para celebrar um acordo entre duas pessoas, pra demonstrar confiança no próximo ou pra receber bem uma visita. Recusar a oferta não é proibido, mas fica feio na foto.
Existe até uma curiosidade bem interessante: não se mexe nada com uma colher. Se o chá é açucarado, o jeito de misturar é servir um copo (sim, Inglaterra, lá o chá com a rainha é no copo de pingado mesmo) e depois devolver o líquido pro bule e ir repetindo a ação até você achar que o açúcar está bem misturado.
Voltando ao passeio pela medina, como o guia já estava lá e o preço era bem em conta (5 Euros por pessoa), fomos de carona com esse grupo e nos embrenhamos na medina que é a maior do Marrocos.
Mas o que é uma medina?
Em árabe, o nome significa cidade, mas o termo é geralmente usado pra designar a parte murada de uma cidade norte-africana. Pra ser mais simples e direto, hoje é a parte central e mais aglomerada das cidades e possui ruas que podem ter menos de um metro de largura. Normalmente, carros e motos são proibidos de entrar, mas se você escutar uma buzina, o melhor mesmo é sair da frente.
Ali tem de tudo: tapete, bugiganga de tudo quanto é tipo, açougue (sem refrigeração alguma), galinha viva, galinha morta, comida, pão (uma delícia) e o que mais você pensar. O mais impressionante de tudo, é que por mais que por fora o lugar pareça uma parada simples e até suja, as vezes nos deparávamos com verdadeiros palácios por dentro. A arquitetura e o capricho de cada mosaico enfeita e dá vida a um lugar que por fora é monocromático da cabeça aos pés.
Aliás, é impressionante ver como cada lugar é incrivelmente caprichado por dentro. Por mais fuleiro que o hostel seja, com certeza você vai encontrar um ambiente muito aconchegante por dentro.
Na medina, passamos por uma loja que vende tapetes, uma cooperativa feminina de produtos de beleza e também pelo curtume de Fez, que era mostrado em O Clone diversas vezes. Em todos os lugares, recebíamos explicações sobre a produção de cada coisa (sempre com um cházinho de hortelã) e quem quisesse, comprava.
Ao final do passeio, pudemos provar um pouco da culinária local. No Marrocos, os principais pratos são cuscuz e tajin. Os dois pratos são até que parecidos, mas a minha preferência fica por conta do cuscuz de frango, que além dos ingredientes que nomeiam o prato, ainda possui uma boa variedade de legumes.
Acabado o passeio, nem bem voltamos ao hostel e já saímos de novo, dessa vez pra conhecer um pouco mais da parte nova da cidade e ver o pôr do sol com uma bela vista da medina. Olha só:
Rumo ao deserto
No dia seguinte, pulamos da cama logo cedo para começar um dos passeios mais legais que já fizemos, um tour de 3 dias que nos proporcionou experiências únicas. Saímos de Fez às 7 horas da matina e rumamos pra Ifrane, uma cidade que não só tem neve, mas é um destino de esqui no Marrocos. Dá pra acreditar? Não? Então olha só essa foto aí!
Um pouco depois, mais ou menos na altura de Azrou, paramos na beira da estrada para ver um lugar que é cheio de macacos. É prática comum das operadoras de turismo parar na área pra deixar que os turistas alimentem os primatas. Também há uns cachorros por lá, mas eles geralmente acabam sendo ignorados pelos turistas por conta dos macacos. Se você resolver parar ali também, separe umas migalhas pro cãezinhos também, ok? 😉
Continuando a descida para o deserto, encaramos estradas fininhas no meio do Atlas e, a cada curva, íamos descobrindo paisagens impressionantes. Passamos por vários oásis, vilas berberes e vistas de tirar o fôlego. O mais interessante foi perceber o contraste absurdo da paisagem em alguns momentos, como nas proximidades do deserto, em que havia neve de um lado e as dunas de areia do outro.
Já como sol quase se pondo, chegamos em um hotel no meio do nada em Merzouga, juntamos apenas o essencial para uma noite no deserto (ou seja: muitas blusas) e montamos nos camelos pra chegar nas tendas no meio do Saara.
Dormir em uma tenda no meio do deserto é uma experiência ímpar e difícil de descrever. Observar as estrelas e as cores do céu ao amanhecer é a melhor parte. Mais detalhes a gente conta em outro post.
A Serra do Rio do Rastro marroquina
Depois de acordar no deserto, voltar ao hotel pra buscar as bagagens e tomar o melhor café-da-manhã da história daquele país, voltamos pro nosso carro e pegamos a estrada novamente (sério, que café-da-manhã… malauí ou msaman é uma parada fantástica. É uma panqueca meio frita, que você recheia com queijo ou geléia e fica gordo de tanto comer).
Passamos por uma pequena cidade chamada Rissani, onde fizemos um pequeno tour com um guia local que nos mostrou o Ksar Abouam, que é como se fosse uma mini cidade dentro da cidade maior e abriga mais de 300 famílias em um lugar cheio de vielas em um espaço incrivelmente menor do que uma medina. Na real é como se fosse uma medina dentro de um ou dois quarteirões inteiros.
Continuamos a descida no sentido Marraquexe e, mais uma vez, nos deparamos com paisagens de cinema. A melhor delas foi no caminho para Todra Gorge, um desfiladeiro gigantesco aos pés do rio Todgha. A estrada é uma versão marroquina da Serra do Rio do Rastro, com centenas de curvas fechadíssimas e uma vista sensacional a cada curva.
Também paramos no desfiladeiro pra caminhar entre as paredes de pedra e apreciar a magnitude do lugar. Ainda antes de chegar ao destino final do dia, passamos por vales com riachos e muito verde em meio à imensidão marrom que domina a paisagem local.
Já de noite, chegamos ao nosso hotel em Ouarzazate, onde jantamos e pudemos descansar para a última perna da viagem, que enfim nos deixaria em Marraquexe. Se tivesse mais quente, poderíamos ter até aproveitado a piscina de lá!
O Marrocos que você vê na telona
Não foi só O Clone que colocou as paisagens marroquinas em evidência no mundo todo. Um monte de filmes teve o país como cenário e dois lugares que visitamos no último dia do passeio foram mostrados em filmes e séries importantes.
Primeiro, fomos ao Atlas Corporation Studios, ainda na cidade de Ouarzazate. É o maior estúdio de cinema do mundo em tamanho geográfico, sendo que a maior parte de seus cenários é composta de deserto e montanhas. Filmes como Lawrence da Arábia, A Múmia e Gladiador tiveram alguma parte gravada ali.
Um pouco mais a frente, paramos em Ait Ben Haddou, patrimônio da Unesco que também foi cenário dos filmes acima e que é a cidade de Yunkai na série Game of Thrones. Mais um lugar fantástico – já tá ficando repetitivo, eu sei, mas fazer o quê?
Um pouco antes de pararmos lá, descemos do carro pra fazer umas fotos um pouco mais de longe e apareceu um senhorzinho muito fofinho com uma cobra numa mão, um lagarto na outra e um escorpião na testa (oi?). Coisas que só acontecem no Marrocos.
Até chegarmos em Marraquexe, atingimos 2.260 metros de altitude no meio do Atlas. Mais uma vez, após a paisagem árida de Ait Ben Haddou com suas casas de barro, nos deparamos com a neve. :0
O caos frenético de Marraquexe
Quase ao anoitecer, chegamos na cidade mais doida em que estivemos no Marrocos. Um amigo argentino que já morou no país jura que Casablanca é ainda mais cheia, movimentada e maluca. Mesmo assim, nos impressionamos com o caos organizado do trânsito, com o tanto de gente nas ruas e com a agitação da medina.
O nosso hotel, pra variar, ficava embrenhado no meio da loucura da medina. É tao complicado se locomover por lá que o google maps não consegue mapear todas as ruas. A vantagem é que tem algumas pessoas no mundo que é gente demais da conta. É o caso do gerente do hotel, que foi nos buscar no lado de fora da medina depois que o nosso guia ligou pra ele. Com ele nos guiando e explicando tudo tim tim por tim tim, só nos perdemos uma vez na cidade… hahaha
Nós teríamos menos de 24 horas por lá. Então, resolvemos deixar as nossas malas e rumar para o centro, pra conhecer um pouco da cidade ainda naquela tarde. Basicamente, demos um rolê na principal praça de lá, a Jemaa el-Fna.
O lugar é insano: muita gente, muito vendedor brigando com o outro pra ver quem leva você pra comer na tenda dele (mesmo que você não queira), macaco dando cambalhota pro dono fazer dinheiro, música, apresentações artísticas. Mesmo que você não saia do lugar, fica exausto só de observar.
No outro dia, pulamos da cama e fomos tomar café no terraço do hotel, com uma vista maravilhosa e uma surpresa inesperada: como era meu aniversário, o pessoal se organizou pra arrumar o café no terraço enquanto eu ficava no térreo esperando pra levar o bule de chá pra cima. Cheguei lá e tinha um banquete, além de bexigas e a melhor companhia! 😀
Uma foto publicada por Daniel Courtouke (@danielcourtouke) em
A nossa volta pra Fez estava marcada para duas horas da tarde. Teríamos tempo de ver algumas coisas na cidade, mas só conseguimos visitar um lugar chamado Ben Youssef Madrasa, que era uma antiga escola, mas hoje é um dos pontos turísticos mais populares da cidade, dono de um capricho enorme nos mosaicos do pátio, ricos em detalhes.
A rota completa
Se você curtiu a nossa aventura e pensa em fazer algo parecido, dê uma conferida aqui no mapa que a Tati preparou com todos os lugares pelos quais passamos nessa viagem e adapte de acordo com o número de noites que você pretende ficar no Marrocos!
Oi, adorei o post, cheio de informações super uteis e um roteiro incrivel!!
Queria saber em que epoca do ano vocês foram? E se usaram alguma agencia de viagem? Ou o carro foi alugado? Obrigada!!
Oi, Analuisa! Fizemos um roteiro de carro por meio de uma agência. Ao todo, ficamos uma semana cheia por lá. Foi intenso, mas valeu a pena. 🙂
Olá!
Muito legal o relato de vocês, parabéns.
Uma pergunta: você acha que esse roteiro é possível ser feito com uma criança de 3 anos? Vocês viram alguma criança, principalmente no tour do deserto?
Me preocupo também por conta da altitude.
Obrigado e parabéns!
Enquanto a altitude você não precisa se preocupar, Rodrigo. Nao sentimos nenhuma diferença e o próprio deserto fica num nível mais baixo. Tirando os pontos mais altos do Atlas, a altitude passa despercebido. Não vimos crianças, mas o nosso tour no deserto teve pouquíssimas pessoas. Nada do que fizemos lá impediria de ter uma criança junto. Eusó evitaria os tours que incluem passeios radicais, como sandboard, tirolesa e etc. Boa viagem!
Marrocos é um país surpreendente, pela sua história, geografia e Cultura.O cenário pela Cordilheira de Montanhas do Atlas e o Sahara,foi impressionante.Andar pelas dunas numa caravana de camelos,passar a noite num acampamento com jantar,fogueira,música e dormir numa tenda aconchegante foi uma experiência inesquecível! O artesanato em madeira,couro,metais,cerâmica é único e de apurado bom gosto. Agradeço ao nosso guia ismail e Obrigado Moroccodeserttour4x4.com
Boa tarde Daniel, tudo bem?
Parabéns pelo relato, está muito bacana!
Estou anotando as dicas aí. Vou dia 10/02 e fico até dia 03/03 e estou colhendo informações de locais bacanas para conhecer.
Uma dúvida que me surgiu é a seguinte:
Em sua experiência, o que acha melhor levar dinheiro para trocar em dólar ou euros? O que compensaria mais?
Obrigado e abraço
Que bom que gostou do artigo, Guilherme! 🙂
Quando estivemos lá, até pagamos um hotel em euros. Então essa seria minha recomendação caso para você não exista diferença entre conseguir uma moeda ou outra.
Abraço, Daniel.
Olá!! É tranquilo levar real para trocar lá?
E vc tem o contato dessa agência? Ou da pra chegar lá e contratar o passeio no deserto?
Trocamos euros por Dirham, Paula. Imagino que em casas de câmbio maiores seja mais fácil se virar com Real, pois muitos brasileiros visitam o país. Para fazer o passeio do deserto eu garantiria que todos os detalhes já estivessem acertados anteriormente, para conseguir negociar preços melhores.
Olá, amei as dicas. Estou me programando para ir a Marrocos em Agosto de 2018, para uma viagem de 10 dias, saindo do Brasil para a capital do Marrocos em Rabat. Gostaria de saber se levo Euro ou dólar e se troco por dhirhan ou não chegando em Marrocos. Quanto você acha que seria viável levar para aproveitar Marrocos por 10 dias
Oi, Jéssica. Tudo bem? Que legal que vai conhecer o Marrocos. 🙂
Com certeza você vai gostar!
Então, você pode trocar dinheiro no Marrocos, sem problema – Euro ou dólar pra Dirham – mas cuide para fazer isso em uma casa de câmbio grande, não pode trocar dinheiro em uns quiosques no meio da rua, ok? Ali você pode cair em alguma armadilha.
Uma boa dica seria fazer um travel card pra sacar dinheiro na moeda local. Aí você não troca demais e nem de menos. Nós tínhamos um chamado Visa Travel Money. Geralmente é possível fazer em alguma casa de câmbio em shoppings no Brasil.
Quanto ao quanto se preparar pra gastar, tudo depende do seu estilo de viagem e do que querem ver. Basicamente, é possível comer muito bem com uns 10 euros em lugares turísticos e bem mais em conta em lugares grandes como o centro de Marraquexe, por exemplo.
A noite no deserto, por exemplo, é um passeio mais caro, mas que vale a pena.
Quanto aos hotéis, por exemplo, você pode achar hospedagens com café por 10 euros por noite por pessoa.
Daniel, como você agendou o tour? Poderia dizer quanto saiu por pessoa? Indica a agencia?
Oi, Tati! Então, nós reservamos com a Fes Desert Tours, o tour saiu em torno de 200 Euros por pessoa, mas fizemos um tour meio personalizado, pois precisávamos voltar para Fez de qualquer jeito porque o nosso voo de volta sairia de lá. Isso incluiu o passeio de 3 dias e duas noites, com acomodação, café da manhã e janta. Conseguimos pagar um depósito de segurança pelo paypal e o resto pagamos em dinheiro na hora.
Olá, Daniel!
Adorei o post, principalmente as fotos 🙂
Vocês alugaram carro? Se sim, acharam tranquilo por dirigir lá? GPS funciona?
Agradeço antecipadamente a ajuda.
*dirigir por lá
Oi, Manuela. Tudo bem? Que bom que gostou do post! A gente fez um tour por lá, então não alugamos carro nem dirigimos. Acho que se você ficar em estradas principais, não tem problema nenhum se virar de carro com GPS.
Olá Daniel, Parabéns pelo post!
Saberia dizer se é viável visitar o Marrocos em fevereiro? Obrigada!
É sim, Regiane! Talvez a temperatura não esteja tão boa quanto em outras épocas do ano (entre 8°C e 15°C em Marraquexe, por exemplo), mas eu diria que depende muito dos lugares que você vai. O lado bom é que você deve encontrar menos turistas do que na alta temporada.:)
Fala, Daniel! Gostei muito do seu post. Gostaria de saber em que mês vocês fizeram essa viagem. Estou pensando em conhecer o Marrocos em agosto de 2017, mas estou em dúvida por causa do calor. Outra dúvida, quantos dias devo reservar para a viagem? Vale a pena incluir Casablanca no roteiro? Abs
Oi, Diogo. Tudo bem? Que legal que gostou das dicas… A gente foi pra lá no final de março, quando ainda não está tão quente… No início de agosto você deve pegar temperaturas variando entre os 23°C e 43°C, mas já na segunda quinzena é difícil pegar mais do que 40°C… Aí eu já diria que o calor é mais suportável… Nós não fomos até Casablanca, mas conversei com um amigo argentino que morou no Marrocos pra saber o que ele achava… Na opinião dele, Casablanca é um destino que dá pra deixar de fora se você comparar com as coisas que pode ver ou fazer no país. Nós fizemos o roteiro do post em 5 dias, mas, honestamente, ficamos pouco tempo em Marraquexe. Eu diria que uma semana seria o ideal. 🙂 Espero que a resposta tenha solucionado suas dúvidas e que o Marrocos seja uma experiência fantástica para você também! Abraço,
Daniel.
Sem dúvida uma viagem para o Marrocos sempre me pareceu caótica, insana e fascinante, ao mesmo tempo. Encontrar neve para lá é realmente algo inesperado. Quem sabe um dia me aventura por essas bandas hehehe Ansiosa para ler o relato de vocês sobre como é passar a noite no deserto 😉
É realmente isso mesmo, Carol! É preciso ir com a cabeça aberta pra absorver toda essa loucura e curtir a viagem! O post da nossa noite no deserto já está no forno =)